Fase ruim na produção leiteira

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- Família Morche diz que momento é de atenção e redução de custos de produção
Família Morche atua na atividade leiteira em linha Ipiranga, interior de Seara.
Os valores pagos ao produtor pelo litro de leite entregue à indústria vem sofrendo constantes quedas nos últimos meses e acendendo um sinal de alerta no setor. Conforme os preços divulgados pelo Conselho Paritário Produtor/Indústria de Santa Catarina (Conseleite-SC), a redução no último mês foi de cerca de 10 centavos o litro.
Para se ter uma ideia, o maior valor do ano foi registrado pelo Conseleite em março, quando o litro do leite chegou a R$ 3,19. De lá pra cá o preço esteve em constante queda, chegando a R$ 2,94 em setembro para quem recebe o maior valor. O preço referência foi de R$ 2,39 e o menor valor praticado ficou em R$ 2,21 no mês passado.
Presidente do Sindileite e desde setembro também à frente do Conseleite, Selvino Giesel, destaca que de um lado a produção aumentou consideravelmente desde 2024. De outro, os preços pagos aos produtores estão em queda pressionados por excesso de oferta, queda no consumo e persistência das importações.
Depois de anos difíceis, com alta nos preços dos insumos e problemas climáticos, a produção leiteira voltou a crescer. “Tivemos dificuldades entre 2022 e 2023, com altos preços dos grãos, falta de silagem e pastagens comprometidas. Isso derrubou a produção. Em 2024, com boa safra de volumosos, queda nos preços do concentrado e um Inverno mais ameno, os produtores conseguiram melhorar a alimentação dos animais e a produção aumentou”, afirma.
Segundo Giesel, o reflexo foi imediato com um crescimento de mais de 14% no volume de leite produzido em comparação ao mesmo período do ano passado. No entanto, esse aumento não veio acompanhado de uma elevação no consumo. Apesar da maior oferta de leite no Estado e no país, as importações de produtos lácteos, principalmente do Uruguai e da Argentina, continuam. “As importações caíram um pouco, mas continuam chegando queijo e leite em pó. Isso pressiona o mercado interno, ainda mais sem aumento no consumo”, analisa o presidente.
Conforme os dados do próprio setor, 80% dos produtos lácteos são consumidos por famílias com renda de até R$ 3.500 mensal. “Essa faixa de renda é a que mais consome e, ao mesmo tempo, a que mais sofre com dificuldades econômicas. Qualquer impacto nessa classe reflete diretamente no consumo de lácteos. E o que estamos vendo agora é uma retração no consumo, o que agrava ainda mais a situação”, salientou o presidente.
Com base nos dados de setembro e início de outubro, Giesel não vê sinais de recuperação no curto prazo. “Historicamente, setembro tem uma pequena queda na produção de leite, mas neste ano tivemos um aumento de quase 3% em relação a agosto. Outubro começou no mesmo ritmo. E com a chegada de novembro e dezembro, período de férias e calor, o consumo tende a cair ainda mais”, projeta. O baixo consumo tende a manter os preços em retração. “É ruim para a indústria e pior ainda para o produtor, que pode se desestimular, sair da atividade e comprometer o abastecimento no futuro, o que gera outro ciclo de alta nos preços e novas importações”, explica o presidente.
Para Giesel, o setor precisa encontrar estabilidade para sobreviver. “Essa gangorra de oferta e preços prejudica todos. Isso não é saudável para nenhum setor econômico”.
Dificuldades
Para os produtores, o momento é de atenção e de reduzir custos para não ter prejuízos na atividade. Leunir Morche, produtor de linha Ipiranga-Seara, que trabalha na propriedade com a esposa Simone e a filha Isabela, diz que a situação é complicada. “Foram várias quedas no preço, inclusive com redução no Inverno, um período em que o preço do leite nunca havia baixado. É preocupante”. O agricultor, que trabalha com cerca de 60 animais e tem 35 vacas em lactação, recebeu R$ 2,34 por litro no último mês. Segundo ele, o valor mínimo para garantir algum resultado seria de R$ 3 o litro.
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