Viagem de conhecimento na Ásia
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- Jangada construída com bambu
Ezequiel Giaretta, assessor técnico da CrediSeara, esteve na China.
“A primeira viagem para fora do Brasil. Foi uma experiência incrível”. A frase do técnico em Agropecuária e assessor técnico da CrediSeara, Ezequiel Giaretta, traduz o resultado da recente viagem de intercâmbio que ele fez à China.
A oportunidade surgiu por meio de um acordo entre os governos brasileiro e chinês para a realização de um curso sobre o uso do bambu em substituição ao plástico. “A partir de um edital do Ministério do Desenvolvimento Agrário, juntamente com a Frente Parlamentar do Bambu do Brasil, foram abertas inscrições para projetos. A CrediSeara elaborou um projeto, inscreveu e entre as mais de 100 iniciativas do país, ficamos entre os 25 selecionados”. Uma missão brasileira com 25 pessoas de 12 estados, entre elas seis catarinenses, teve essa honra.
Foram 19 dias de curso no International Centre for Bamboo and Rattan, uma organização intergovernamental que promove o uso sustentável do bambu para o desenvolvimento social, econômico e ambiental. A Instituição trabalha para melhorar a qualidade de vida de produtores e usuários desses materiais por meio de pesquisa e desenvolvimento, com foco em áreas como energia, construção, sustento (livelihoods) e apoio à adaptação climática.
À reportagem do Folhasete, Ezequiel contou que foram 16 aulas teóricas e 12 visitas técnicas relacionadas ao tema. Nos primeiros dias as atividades ocorreram na capital, Pequim. Depois o grupo viajou para a província de Fujian, na cidade de Nanping, onde conheceu fazendas produtoras. Na sequência, a comitiva visitou fábricas de beneficiamento. “Uma das indústrias que visitamos produz mais de 2,5 mil itens a partir do bambu. A China produz atualmente mais de 10 mil itens com essa matéria-prima, utilizados para substituir o plástico”.
Entre as gratas surpresas dessa experiência, ele contou sobre a visita a um prédio de quatro andares totalmente mobiliado, desde a cama e roupas de cama até as roupas para vestir, tudo feito com fibra de bambu. “Bicicleta e tudo o que se imagina são produzidos com bambu”.
O roteiro incluiu ainda uma indústria que beneficia 45 mil hectares em produtos derivados da matéria. Sem contar que o bambu também faz parte da cadeia alimentar dos chineses, consumido tanto in natura, quanto em conserva e cozido. “O broto e as folhas também são usados para fins medicinais e chás. O bambu está muito presente no cardápio nutricional deles. A conserva, por exemplo, poderia substituir aqui o palmito, com muito mais propriedades nutricionais”, destaca. Segundo Ezequiel, os chineses aproveitam até os resíduos do broto para produção de carvão ativado, utilizado na geração de energia.
Roteiro
Na rota de conhecimento e aprendizado da comitiva brasileira estavam várias cidades altamente populosas, como Pequim (a capital), Nanping, Shaowu, Jianzhou e Funzhou, em Fujian. Atividades turísticas em pontos famosos e importantes do país igualmente foram um presente para o grupo, que pôde aprofundar um pouco da história e dos aspectos culturais da segunda maior economia do mundo. “Uma viagem inesquecível”, afirma Ezequiel Giaretta, ressaltando que a bagagem de conhecimento trazida de lá não tem preço. “A civilização chinesa tem mais de cinco mil anos e o bambu sempre fez parte dessa cultura. Eu trouxe, inclusive, óculos cujas lentes são feitas de fibra de bambu”.
Produto tem múltiplos aproveitamentos
Em relação ao aproveitamento, Ezequiel Giaretta explica que “a diversidade e a aplicabilidade dessa matéria- prima são pertinentes e necessárias para nossa região. Ou evoluímos para reduzir o uso do plástico ou nos tornaremos uma sociedade obsoleta para o futuro. É preciso eliminar aos poucos aquilo que fazemos no dia a dia com o plástico e, especialmente, reduzir o CO₂. Para se ter uma ideia, o bambu tem capacidade para absorver cinco mil toneladas de dióxido de carbono da atmosfera por hectare e transformá-las em matéria útil ao desenvolvimento humano”.
O assessor técnico da CrediSeara pontuou que “enquanto cooperativa, a CrediSeara tem projetos ousados nesse segmento. A China pretende, até 2035, alcançar uma economia de 1 trilhão de Yuans e 15% da economia agrícola a partir do bambu. E nosso solo, de forma geral, é muito melhor que o deles, então podemos produzir bastante aqui. Podemos trazer indústrias deles para cá ou transformar as nossas para esse tipo de beneficiamento”.
Hoje a maior área de bambu é a brasileira, com 12 milhões de hectares, enquanto os chineses têm cerca de 10 milhões. “Para nós pode ser uma alternativa importante de diversificação de renda nas propriedades, que em um prazo de 30 anos consegue gerar uma renda 20 vezes maior do que o pinus e o eucalipto, por exemplo. Isso é dado de pesquisa científica”.
O maior desafio, segundo ele, é colocar em prática tudo o que viu e aprendeu por lá. “Ainda estamos sentindo um turbilhão de emoções e ideias na cabeça, mas, aos poucos, vamos colocando em prática”. Encerrou salientando que “a CrediSeara foi a primeira cooperativa brasileira de crédito selecionada para participar desse curso. Eu representei mais de oito mil sócios e isso nos faz acreditar que muito do que fazemos enquanto sociedade que pensa nas questões sociais e humanas é uma representatividade importante”.
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