A searaense Anna Paula Brandt, 32 anos, deixou o município aos 16 anos para estudar. 'Meu sonho era a medicina', afirmou. Ela chegou a prestar vestibular em universidades federais. Mas foi a segunda opção que acabou ganhando espaço em sua vida. 'Cursei farmácia na Unochapecó e me apaixonei'.

Foram três anos em período integral e mais um ano cursando a especialização em análises clínicas. Durante a faculdade, prestou estágio voluntário no Laboratório Municipal de Chapecó, quando obteve experiência com coleta, manipulação e preparação de materiais biológicos para a realização dos exames laboratoriais e também, análise dos resultados obtidos. "Quando finalizei a graduação, consegui meu primeiro emprego como farmacêutica em uma farmácia de dispensação em Concórdia". 
Nesse tempo, trabalhava em Concórdia e fazia a especialização em análise clínicas em Chapecó. Trabalhou como farmacêutica também em Seara e em Salete. 
Mas o entusiasmo pela carreira acadêmica falou mais alto. "Prestei a prova para o mestrado em Ciências-Bioquímica no departamento de bioquímica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e passei. Pedi demissão e me mudei para Curitiba". 
E está lá até hoje. "A experiência anterior em laboratório me ajudou muito durante o mestrado. Minha dissertação foi orientada pela professora-doutora Sílvia Maria Suter Correia Cadena e se baseou na investigação in vitro do mecanismo de ação de um novo composto antitumoral (SYD-1) sobre linhagem de células de câncer hepático humano. Para fins de análise de seletividade, também trabalhamos com cultura primária de hepatócitos isolados de fígado de rato (linhagem não-tumoral)". Explica que "o composto foi sintetizado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro pela professora-doutora Aurea Echevaria. Parte dos dados obtidos durante esse período foi publicada na revista Chemico-BiologicalInteractions (http://dx.doi.org/10.1016/j.cbi.2014.05.002)". 
E não parou por aí. "Após finalizar meu mestrado, em 2012, logo entrei no doutorado. Eu e minha orientadora seguimos trabalhando com o SYD-1 e o mesmo modelo experimental. O projeto de doutorado consiste em um aprofundamento do entendimento do mecanismo de ação do composto. A ideia é futuramente testar em ratos, e dependendo dos resultados, quem sabe um dia ele possa ser utilizado como um quimioterápico". 
A dedicação é tamanha que, depois de dois anos de doutorado, a searaense teve a oportunidade de desenvolver uma parte do projeto na McGill University em Montreal-Canadá sob orientação da professora-doutora Julie St-Pierre. "Por um ano pude utilizar diferentes técnicas para complementar meu trabalho. Os resultados estão sob análise e serão publicados em breve, enquanto que os resultados obtidos durante os primeiros dois anos foram compilados na forma de um manuscrito e submetidos para uma revista internacional e está sob avaliação. Mais recentemente também participei de um projeto em conjunto com a professora-doutora Stelia Carolina Mendez, da Universidade Santander, localizada em Bucaramanga-Colômbia. Apesar de ter permanecido apenas 40 dias naquela Universidade, houve uma importante troca de conhecimento. Além disso, minha orientadora também me proporcionou a chance de colaborar ao longo do meu doutorado com diferentes linhas de pesquisa de professores da própria UFPR, porém de outros departamentos e também da USP. Agora minha defesa está próxima. Será em agosto". 
Anna Paula acrescenta que "não é fácil fazer ciência no Brasil. Cientista nem é reconhecido como profissão no nosso país e para desenvolver alguma linha de pesquisa é preciso inicialmente ser professor de uma universidade federal, porque muito poucas universidades particulares investem em estudos. Além disso, o incentivo federal é baixo e as verbas são limitadas, dificultando a competitividade com laboratórios estrangeiros. Mas, apesar de tudo é uma grande realização. Assim, eu não posso deixar de agradecer a minha professora Sílvia por ter me aceitado como aluna e ter dividido comigo todo o conhecimento e a minha mãe, que me apoiou em todas as escolhas".