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Crise tira produtores da atividade

Santa Catarina é o maior produtor e exportador nacional de carne suína do Brasil. São 10 mil criadores integrados às agroindústrias ou independentes, que produziram em 2015 cerca de 2,1 milhões de toneladas de carne suína.

Com um rebanho efetivo estimado em 6,1 milhões de cabeças, o Estado é responsável por aproximadamente 35% das exportações brasileiras. Estimativas do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa/Epagri) mostram que no último ano exportou 136,3 mil toneladas de carne suína, um rendimento de US$ 412 milhões. Os principais destinos do produto catarinense foram Rússia, Hong Kong, Angola, Cingapura, Chile, Japão, Uruguai e Argentina.
Mesmo com toda força e qualidade do produto, os suinocultores catarinense enfrentam uma crise sem procedentes e que está fazendo com que muitos deixem a atividade. Um exemplo em Seara é o suinocultor Luiz Jaime Cozer, de linha Água Bonita. Após uma vida dedicada à produção de suínos, aos poucos está se desfazendo dos animais.
Em entrevista ao Folhasete, Cozer relata que trabalha com a suinocultura há mais de 50 anos. "Estou deixando por causa do preço do produto. A remuneração é baixa e os insumos estão altos demais. A gente acaba perdendo dinheiro. Ainda tenho uns animais para terminar e nem parei para pensar o que vou fazer depois". Acrescenta que os suínos eram a principal fonte de renda da família, que trabalha ainda com gado leiteiro.
Aposentado, seu Luiz diz ter recebido apoio da família para deixar a atividade. "Está quase no fim. Em setembro terminamos os animais. Tomei a decisão de deixar a produção em março, quando eliminei as matrizes". Revela que "já estou estranhando muito. E isso que ainda tenho alguns animais. Imagina quando não tiver mais nada".
Luiz Cozer trabalhava de forma independente e com o chamado ciclo completo de criação.  Explicou que a família enfrentou diversas crises na suinocultura. "Mas nenhuma igual a essa".
Preços altos
O presidente do Núcleo de Criadores de Suínos de Seara, Francisco Canossa, afirma que a situação está complicada e que há vários produtores vendendo os plantéis. Para ele, o principal motivo da crise é o baixo consumo de carne suína, aliado ao alto preço dos insumos. "Vai ter mais produtores deixando a atividade", prevê Canossa.

Pequenas indústrias diversificam clientes
Para as pequenas agroindústrias, uma das saídas para enfrentar a crise está sendo a busca de novos mercados e a união de forças. Conforme o gerente da MSM Alimentos, de linha Santa Lúcia-Seara, Josimar Sordi, o consumidor final está retraído e os produtos não estão tendo a mesma saída. "O consumidor está adquirindo menos derivados de carne e está optando por produtos mais em conta".
Sordi enfatiza que a partir de fevereiro a queda nas vendas foi mais acentuada, mas que aos poucos está havendo uma reação. "Nós adquirimos carcaça pronta e, segundo nossos fornecedores, têm matéria-prima suficiente, mas já há relatos que se a crise continuar dessa forma vão faltar animais, não pelo aumento do consumo, mas pela redução da produção. Acredito que grande parte da crise a própria agroindústria pode evitar. Para não deixar minha venda cair, estou buscando novos clientes e parcerias, mas, com certeza, as dificuldades estão maiores agora do que há um ano atrás". A agroindústria MSM produz especialmente linguicinhas e salames.

Faltou ação governamental
A queda contínua do consumo de carnes no mercado brasileiro, associada aos elevados custos de produção industrial, levaram algumas agroindústrias a suspender parcialmente as atividades de plantas industriais em diferentes pontos do Oeste do Estado. Para o presidente da ACCS, Losivanio de Lorenzi, o principal motivo da crise que afeta o setor é o governo federal ter deixado exportar um volume expressivo de milho para equilibrar a balança comercial. "O governo não tomou nenhuma atitude. Tivemos uma alta em dólar no preço do milho e aí os produtores preferiram colocar a safra no mercado internacional, provocando o aumento nos preços, o que inviabilizou atividades como a suinocultura e a avicultura".
O presidente acrescenta que o momento de dificuldades na suinocultura começou em janeiro, quando iniciou a onda de aumentos dos custos de produção e a queda no valor recebido pelo produtor. "Desde outubro do ano passado a gente tem buscado ações junto ao governo federal para fazer alguma reserva de milho para o mercado interno, mas isso não ocorreu. E desde janeiro estamos com esse problema, que vem se agravando e nada aconteceu que possa mudar a realidade do produtor".
Losivanio de Lorenzi destaca que o baixo consumo de carne suína também tem afetado o produtor. "Essa crise toda tem tirado o poder de compra das famílias brasileiras e essa é uma das questões que tem atrapalhado bastante. O aumento do desemprego é uma das dificuldades que estamos encontrando para elevar o consumo interno e reajustar o preço do suíno. Apesar das exportações estarem aquecidas, o consumo interno está bem defasado". Para o segundo semestre a expectativa é de melhora, conforme o presidente da ACCS.
Crise não é só econômica
O gerente geral da unidade local da JBS, Alexandre Ferreira, explicou que "o agronegócio passa por um momento de desafios talvez jamais vivido. Isso envolve grãos, o cenário político, econômico, social e moral. Com certeza, a empresa tem seus desafios internos e externos para superar. A gente vive um momento de dificuldade de grãos e de mercado. O que nos tem dado mais tranquilidade são as estratégias da empresa e a solidez do negócio JBS". A expectativa é de alguma melhora neste segundo semestre.

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