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Conflito quase rendeu tragédia

Para marcar os 20 anos do FolhaSete, lembrados em maio, vinte reportagens que marcaram época nestas duas décadas de atuação estão sendo relembradas.

Na reportagem especial desta semana, recordamos a história das famílias de agricultores searaenses que foram retirados de suas terras e locais onde trabalhavam como agregados na região de Toldo Pinhal, no ano de 1997, e reassentados no município de Abelardo Luz. No dia 14 de junho de 1997, o então Seareiro FolhaSete contou a realidade enfrentada pelos produtores que tiveram que abandonar as terras em Seara, pois o Ministério da Justiça decretou como área indígena cerca de 893 hectares que ficaram em posse de índios caingangues. 

Os agricultores receberam indenizações apenas pelas benfeitorias. Não ganharam nada pelas propriedades e, na época, foram convencidos pelo Incra a se mudar para a Fazenda Ana I, no interior de Abelardo Luz. Quando chegaram lá, encontraram condições precárias de acesso, comunicação e praticamente não tiveram auxílio nenhum do governo. Além disso, pagaram caro pelas áreas, que também eram alvo de invasões de sem-terra. Como se não bastasse, o pouco que sobrou mal dava para o sustento das famílias.
Na época, o conflito entre índios e colonos esteve eminente. Várias lideranças, como dirigentes do Incra e da Funai e até mesmo o bispo diocesano Dom José Gomes chegaram a ser feitos reféns pelos indígenas. Com a confirmação da criação da Reserva Indígena Caingangue do Toldo Pinhal, quase 40 famílias de agricultores tiveram que deixar suas terras. 
Quase 20 anos se passaram desde a reportagem e muita coisa mudou de lá para cá. A Fazenda Ana I agora se tornou o Acampamento Euclides dos Santos Rodrigues, abrigando diversas famílias, não só de Seara, mas também de outras regiões. Os conflitos cessaram e a vida segue com normalidade. 
O FolhaSete localizou nesta semana a família de seu Arlindo Kuhn, 61 anos.  Arlindo deixou Toldo Pinhal em 1996 e se mudou para a então Fazenda Ana I. "Deixamos para trás 15,5 hectares de terras, onde éramos agregados. Com muita luta e esforço, conseguimos nosso próprio pedaço de terra para cultivar nossas coisas, construímos a moradia e agora recebemos mais ajuda e estamos reformando a casa".
Arlindo mora com a esposa Amélia e tem dois filhos, Tonimar e Vanessa Maria, ambos com formação técnica ligada à agricultura. "Agora finalmente estamos felizes aqui. Deixamos parentes em Seara, mas nunca mais retornamos. Faz parte do passado", menciona. O agricultor relata ainda que "no começo foi fácil, passamos dificuldades, como pouca estrutura e muito frio, mas o agricultor é acostumado a sofrer, a vida na roça é assim mesmo".
Arlindo finaliza deixando um recado aos familiares que residem no município. "Deixamos um abraço para todos que são parentes aí e queremos dizer que estamos bem aqui".
Demarcações
Após o episódio em que várias famílias saíram de Seara na primeira demarcação da área indígena de Toldo Pinhal, um novo processo se desenrolou na Justiça, em que a Funai almejava a ampliação da atual área de 893 hectares para mais de quatro mil hectares. A primeira decisão foi favorável à ampliação, porém os agricultores conseguiram reverter a decisão no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF 4ª) em Porto Alegre. O processo está em grau de recurso na Justiça Federal e ainda não tem desfecho definitivo.

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