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Sete casos de abuso sexual em 100 dias

  • - Psicóloga Patrícia Frozza salienta que abusos deixam traumas

Psicóloga diz que aumento nos registros deste tipo de ocorrência exige atenção da sociedade. Em geral abusos são cometidos por parentes ou pessoas próximas das vítimas.

Nos últimos 100 dias, o Conselho Tutelar de Seara atendeu sete casos de abuso sexual de crianças e adolescentes. O número é bem acima da média histórica.
A psicóloga searaense Patrícia Frozza relata que “o abuso sexual é um fenômeno que existe desde sempre, difícil de definir devido aos inúmeros contextos em que ocorre, à variedade de comportamentos que pode envolver e à frequência que podem ocorrer”. Esclarece que “abuso é qualquer tipo de violência com finalidade sexual praticado contra crianças, adolescentes ou adulto, podendo ser verbal, visual ou físico. Ou seja, são atos que agridem a pessoa não só fisicamente, mas psicologicamente e sensorialmente”.

Com relação ao aumento dos casos que chegam às autoridades, alerta que “sabemos que a pandemia foi um fator significativo, com escolas fechadas, distanciamento social, mudança na rotina familiar, fatores econômicos e sociais. Digno de nota é o aumento estatístico, nos casos de abuso sexual, mas não significa aumento real da incidência desse fenômeno na sociedade. Diz respeito a uma maior preocupação social e maior atenção ao tema”. O abuso sexual, segundo a psicóloga, pode ser cometido contra meninos e meninas, homens e mulheres, porém a maioria dos casos ocorre com o sexo feminino, com maior incidência na fase infantojuvenil. “É importante distinguirmos abuso sexual intrafamiliar do extrafamiliar. É considerado abuso sexual intrafamiliar quando é cometido por um adulto ligado à vítima por laços de parentesco, afinidade ou responsabilidade. Já o abuso sexual extrafamiliar é cometido por uma pessoa que não pertence à esfera familiar da vítima. Cerca de 90% dos casos vêm de dentro de casa e são cometidos por familiares ou pessoas próximas”.

A experiência de abuso sexual pode afetar o desenvolvimento cognitivo, afetivo, comportamental, social e físico de crianças e adolescentes de diferentes formas e intensidade. “Não é apenas um fator que determina a maior vulnerabilidade ao abuso, mas uma combinação de diversos fatores, que tem relação e impacto entre si, tais como a deficiência física ou mental, ausência de um ou ambos os pais; conflitos conjugais; abuso de substâncias por parte dos pais; isolamento social da família; negligência emocional ou física; e falta de uma rede de suporte emocional”.
Não existe um perfil definido de vítima, segundo Patrícia Frozza. “Também não existe um perfil de abusador. Mas alguns estudos apontam características familiares do abusador, como vivência de maus tratos na infância e negligência na vinculação entre pais e filhos”.

Patrícia lembra que a detecção de uma situação de abuso sexual pode ocorrer na sequência de um processo de revelação por parte da criança, por alguém que presenciou o abuso ou por alguém que suspeita de uma situação abusiva. “Frequentemente as suspeitas baseiam-se em sinais e/ou sintomas, como alterações comportamentais no qual destacam-se conduta hipersexualizada, abuso de substâncias, fugas do lar, furtos, isolamento social, agressividade, mudança nos padrões de sono e alimentação e comportamentos autodestrutivos, tais como se machucar e tentativas de suicídio. As alterações cognitivas na vítima incluem baixa concentração e atenção, dissociação, refúgio na fantasia, baixo rendimento escolar e crenças distorcidas, tais como a percepção de que ela é culpada pelo abuso”. Já as alterações emocionais denotam “sentimentos de medo, vergonha, culpa, ansiedade, raiva e irritabilidade. E os indicadores físicos são hematomas, arranhões e lesões na parte interior das coxas, genitais ou peito, dificuldade em andar ou sentar-se, coceira, inflamação e infecção nas áreas genital e retal, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e desconforto em relação ao corpo”.

Reflexos

O desenvolvimento de psicopatologias é comum nas vítimas de abuso sexual, como o Transtorno de Estresse Pós-traumático, Transtorno Depressivo e problemas ligados à ansiedade. Consequências de longo prazo também se fazem presentes, como transtornos de personalidade.


Investigação para identificação dos casos é fundamental

De acordo com a psicóloga Patricia Frozza, é importante ressaltar que a presença de sintomas não significa necessariamente que a criança tenha sido vítima de situação sexualmente abusiva. Estes sinais podem indicar a presença de uma situação de risco, à qual os adultos devem estar atentos.

Diante de inúmeras consequências adversas associadas à ocorrência do abuso sexual e do impacto que tem para suas vítimas e famílias, torna-se necessário abordar estratégias de prevenção que englobam escola, comunidade e família. “É importante ensinarmos às nossas crianças e adolescentes a reconhecer situações abusivas e fornecer um espaço de confiança onde elas se sintam encorajadas a revelar o abuso que vivenciaram ou estão vivenciando”.

Patrícia salienta que “precisamos falar sobre abuso sexual e não permitir que ele seja empurrado para baixo do tapete. Isso é fundamental para que tenhamos uma sociedade que se preocupa em prevenir essa violência e não apenas em punir e rechaçar quem a pratica”. Ela finaliza com as palavras de Christine Sanderson: “as crianças têm o direito de viver em um mundo em que não sejam mais vulneráveis ao abuso e à exploração sexual, em um mundo no qual possam confiar em vez de ter medo”.

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