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Morre Dr. Harry Quadros de Oliveira

  • - Casal Harry e Lydia com quatro dos seis filhos

Searaenses que conheceram o médico, como dona Edith Franke, lembram com carinho de sua passagem por Seara e sua contribuição em momentos importantes para a comunidade local.

A comunidade searaense está enlutada. Uma das figuras mais importantes da história do município morreu no sábado, dia 29 de abril.

O primeiro médico do município, Harry Quadros de Oliveira, faleceu aos 105 anos.

Doutor Harry, como era conhecido, chegou em Seara em 1943, ainda antes da emancipação. Seara à época se chamava Nova Milano, um distrito de Concórdia. Recém-formado e apaixonado pela medicina, participou ativamente de todos os grandes momentos de Seara. Foi um dos líderes do processo de emancipação, que aconteceu em 1.954, e esteve presente na fundação do Frigorífico Seara, inaugurado em 1956.

Harry Quadros de Oliveira conquistou o respeito e a admiração da população por sua competência na área médica e, especialmente, pelo jeito simples e o coração generoso. Por vezes atendia as pessoas de graça, por isso era conhecido também como o médico dos pobres. Nunca deixou de prestar o serviço a quem quer que fosse. Se o paciente não podia pagar em dinheiro, recebia frutas, aves, uma garrafa de vinho doce... Enquanto ainda estava no município, conheceu a esposa numa viagem ao Estados Unidos, onde cursou pós-graduação em Pediatria. Voltou casado com a enfermeira norte-americana Lydia Arsego, com quem teve seis filhos: Nayla Rose, Suzana Regina, Harry Junior, Elisabeth Rose, Jacqueline e Francisco Jorge. Deixou o município em 1966, rumo a Porto Alegre. Voltou ao Estado que nasceu, mas nunca se manteve distante de Seara. Aqui recebeu diversas homenagens, inclusive o título de Cidadão Honorário pela Câmara de Vereadores. Ele também dá nome à principal praça da cidade. Em 2022 recebeu a Comenda de Carvalho pelos 80 anos de medicina na capital gaúcha.

Dr. Harry nunca escondeu de ninguém que Seara é a cidade onde ele foi mais feliz. Em todas as entrevistas concedidas falava com carinho do município. “Entreguei minha juventude a Seara. Cheguei com 27 anos, sonhador, decidido a fazer o bem. Sempre digo que nunca tive um período de vida tão feliz. Isto me ajudou a viver também feliz apesar de sair de Seara”, disse ele em entrevista ao Folhasete em 2017.

Dr. Harry Quadros de Oliveira foi velado em Porto Alegre e cremado no domingo, 30, às 15h, no Crematório Petropolitano, como era o seu desejo. Em vida, fez um pedido especial: que parte de suas cinzas fossem trazidas a Seara, o segundo grande amor de sua vida (o primeiro era a esposa e os filhos).
O prefeito Kiko Canale decretou luto oficial por três dias. A bandeira do município ficou a meio-mastro.


Publicação

O livro “A Travessia de Harry - o médico centenário” foi publicado quando ele completou 100 anos de vida. A publicação foi escrita por Victor Lourenço. No livro Dr. Harry é retratado como “um ser humano extraordinário”. Gaúcho de Dom Pedrito, nascido em 15 de agosto de 1917, quando menino gostava de andar a cavalo e tomar banho de rio. Cursou o ginásio em Santa Maria, onde residiu até os 16 anos. Se transferiu para Porto Alegre, onde cursou Medicina. Escolheu Seara para aplicar seus conhecimentos. Chegou ao município no caminhão de João Farina. Lembra que moradores do vilarejo ajudaram na compra dos primeiros equipamentos. Como não existia uma casa hospitalar, a melhor residência da época, que pertencia a dona Henriqueta Nardi Zanuzzo, foi escolhida para que Harry Quadros de Oliveira atendesse a população. Quando precisava se deslocar ao interior usava o cavalo Borge, emprestado pelo ex-prefeito Teodoro Barbieri.


Uma história que jamais será esquecida

Gaúcho, nascido em Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul, Harry Quadros de Oliveira, chegou em Seara aos 27 anos. Um jovem médico recém-formado.

No então distrito Nova Milano, criou fortes laços afetivos. Nas pessoas que o conheceram, conviveram ou foram tratadas por ele, deixou uma bela marca: a generosidade. A simplicidade do primeiro médico a cuidar e zelar pela saúde dos searaenses e localidades vizinhas fez brotar o respeito e a admiração do povo.

São várias histórias sobre Dr. Harry, conhecido também como médico dos pobres.

Para a primeira professora de Seara, dona Maria Eugênia Serafim Rech, “Dr. Harry foi um excelente médico”. O compadre de casamento de dona Maria e seu Dorvalino, deixou um belo legado como profissional e por ser uma pessoa que atendia todas as pessoas sem distinção. Era dona Maria Eugênia que também regia o canto enquanto seu Harry tocava seu violino. “Ele atendia todos como irmãos. Não desprezando os outros médicos de Seara, mas o Dr. Harry, primeiro médico daqui, podia ter temporal que ele saía a cavalo para o interior para atender os doentes. Não sei nem o que falar do Dr. Harry, porque ele foi demais, humano. É até difícil falar tudo o que ele fez por Seara e pelas pessoas”.

O empresário Adimar Farina, o Suca, relembra também da simplicidade e generosidade do médico. Dr. Harry era amigo da família Farina. “Ele era muito amigo do meu pai”. Cita que “numa época eu tive um ‘Jeep de Praça’ e eu o levava fazer parto nos ranchos por aí. Naquela época aqui existia parteira, mas quando complicava eles vinham chamar o médico”. Suca ressalta que “não dá para descrever a pessoa que ele era. Um cara bom, simplório, que conversava com todos. O Dr. Harry era o Doutor!”. Recorda que “era muito humano. Chegava nos lugares para fazer partos e se a pessoa não tinha dinheiro para pagar, ele dizia: ‘me traz um litro de vinho doce ou umas frutas’. Ele era assim. Foi uma grande pessoa. Deixou saudade desde quando saiu daqui”.

A servidora pública aposentada Edith Farina Franke, 86 anos, também conviveu com Harry Quadros de Oliveira. Recorda do bom médico que o jovem recém formado era, do trato com as pessoas e a generosidade do doutor. “Era médico das famílias. Fazia muitas consultas de graça”. Doutor Harry foi convidado para o casamento de dona Edith e seu Walter Franke. “Ele era mais próximo do meu pai e do meu marido. Foi meu pai, com seu caminhão, que o trouxe para Nova Milano”.


Amizades

Assim como os demais convidados, Harry Quadros de Oliveira discursou no casamento de Edith e Walter Franke. “Ele era gente fina”. O filho mais velho de dona Edith, João Carlos, nasceu pelas mãos do Dr. Harry. Edith comenta que, por causa do médico, hoje as irmãs Farina têm um grupo no WhatsApp denominado “As Farinetas”, pois era assim que Harry Quadros as chamava quando as encontrava.

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